- sirva o vinho.
- parece que faz décadas que não nos encontramos, mas fazem apenas dois anos que esse seu cheiro de gim saiu dos meus lençóis.
- esse assunto de tempo é cada vez mais subjetivo.
- talvez, mas você anda distante. com certeza tem dormido mal e se alimentado pior ainda, olheiras, manchas no rosto...
- e principalmente no coração. – sussurrou bem baixinho.
- o que? fala mais alto.
- nada, não disse nada.
(...)
- sabe, éramos jovens o bastante para acreditar na eternidade. agora tudo parece meio bobo e nossos amores são cada vez mais modernos & livres & superficiais.
- seu cheiro está diferente essa noite.
- troquei o perfume, a roupa, as cortinas e a mobília. depois que você se foi ainda ficaram vestígios seus por toda parte.
- depois que eu fui senti cada vestígio meu que permanecia intacto nos armários dessa casa.
- joguei fora.
- senti. – pegou um cigarro. – tem fogo?
- parei de fumar.
(...)
- o vinho acabou e eu nem estou bêbado.
- o vinho acabou e eu perdi meu tesão.
- só agora?
- desde sua partida, ele se foi juntamente com a mobília da cozinha.
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