quantas vezes da minha dor retirei o caos para evitar que apodrecesse teu cais?
quarta-feira, 11 de abril de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
permanece doentio.
sobre a loucura, digo. elogio esse instante lúcido em que seus pés tocaram minha mente e entraram no corpo, iniciando o círculo vicioso até as veias. loucura que tu diz é essa que criou um arco-íris de flores mortas e sombrearam minha visão, abriram o paladar para as experiências sacrificantes e insignificantes que rolam dentro desse corpo jovem, gasto e despudorado sem nome e identificação no tempo.
ah... não censures o que existe de mais permanente em mim, não me dopes com tuas drogas e seus dotes de prever os atos lamacentos do meu eu. se te digo que estou sã, meu bem, significa somente que deixei de lado a espera suntuosa pela alegria cotidiana, os vícios permitidos e principalmente esses amores decassílabos.
o tesão e a mobília.
- sirva o vinho.
- parece que faz décadas que não nos encontramos, mas fazem apenas dois anos que esse seu cheiro de gim saiu dos meus lençóis.
- esse assunto de tempo é cada vez mais subjetivo.
- talvez, mas você anda distante. com certeza tem dormido mal e se alimentado pior ainda, olheiras, manchas no rosto...
- e principalmente no coração. – sussurrou bem baixinho.
- o que? fala mais alto.
- nada, não disse nada.
(...)
- sabe, éramos jovens o bastante para acreditar na eternidade. agora tudo parece meio bobo e nossos amores são cada vez mais modernos & livres & superficiais.
- seu cheiro está diferente essa noite.
- troquei o perfume, a roupa, as cortinas e a mobília. depois que você se foi ainda ficaram vestígios seus por toda parte.
- depois que eu fui senti cada vestígio meu que permanecia intacto nos armários dessa casa.
- joguei fora.
- senti. – pegou um cigarro. – tem fogo?
- parei de fumar.
(...)
- o vinho acabou e eu nem estou bêbado.
- o vinho acabou e eu perdi meu tesão.
- só agora?
- desde sua partida, ele se foi juntamente com a mobília da cozinha.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Te devoro pelos seios e afago os cabelos. Pensamentos sorrateiros em meio à madrugada, sozinha, te escrevo para dizer o que o inconsciente sussurra em meus ouvidos alados de versos decassílabos que ouço das outras bocas e ignoro-as, como de costume. Minha mania de amor lhe traz o desatento, benzinho, lhe digo: a mania estacionou naquele instante em que teu corpo conseguiu tocar meu íntimo e fazer-me esquecer de todo o alarde que me impedia de voltar a desposar dos beijos teus.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Teu cheiro impregnado no meu corpo tornou-se quase meu. Volta para casa, sorriso bobo no rosto e não importa, meu amor, não importa quanto tempo demore a chegar e não importa quantas páginas daquele livro eu leia no caminho. Observo as árvores secas de dentro do trem, à noite que fita os olhares alheios sobre mim, luzes apagadas e sorrisos falsos em bocas desconhecidas. Afinal, ao repousar em meu leito dormente os sonhos circularam na inércia e a saudade que já cultivo do teu abraço e principalmente do teu cheiro, que impregna em mim até tornar-se quase meu.
domingo, 29 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Deu vontade de chorar, então uma lágrima começou a cair e eu, singelamente, brequei-a antes e traçar a linha entre os olhos e a bochecha. Reparei que durante tanto tempo tenho segurado choros com essa represaria e com esse sentido, pois me negar a concluir o ato me faz mais segura não só do meu próprio autocontrole como também deixa minha escolha finalizada.
Senti vontade de chorar, mas nesses últimos dias minhas vontades andam fortemente oprimidas por algum desejo tolo do coração.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
O mundo e um homem triste.
Você é o mundo e eu somente um homem triste. Só mais um, só mais um daqueles que olham seu vestido rodado e se encanta pelos teus pesares. Você é o mundo, você gira nessa roda-gigante cheia de sorrisos, cabelos esvoaçantes e cheia de amor. Enquanto eu permaneço imóvel e escravo do meu emprego, do meu ego, da minha vida mal-vivida, dos meus cigarros vermelhos e da minha falta de coragem. Você é o mundo e eu só mais um turista querendo me engajar no frio dos teus braços, no calor das tuas pernas e na intimidade das tuas lágrimas árduas que escorrem por cima da tua maquiagem forte, tão forte quanto esse coração.
Você é o mundo cheio de países, cidades, polos diferentes e sempre outros ares. Enquanto eu sou somente uma cidadezinha na zona do interior onde nem trem passa, onde nem ônibus quer, onde é longe demais para qualquer mulher. Você é meu maior medo, minha maior angústia, minha maior precipitação poética, você é minha falta de ética enquanto eu sou somente um homem triste.
domingo, 15 de janeiro de 2012
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
- você é como meu in the wee small hours, a capa está velha e gasta, mas é lindo, lindo... não consigo parar de ouvir, é sem dúvida meu disco preferido. o som entra nos ouvidos e vai me fazendo imaginar aquele monte de coisa que eu já conheço faz anos, mas a cada vez traz um significado diferente. o disco que sempre ficará na estante e no coração. elas são como coletâneas inglesas... a capa é linda, mas o disco nunca chegará a cegar a agulha da minha vitrola.
e então ela cantou baixinho: "i'm so lonesome i could cry/ cause there's nobody who cares about me/ i'm just a soul..."
e então ela cantou baixinho: "i'm so lonesome i could cry/ cause there's nobody who cares about me/ i'm just a soul..."
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Caio Clichê.
E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Tudo perdeu tanto o sentido. Sabe, meu bem, eu perdi a noção de que dia da semana é. O tempo corre e o calendário vai dizendo quanto tempo falta para minha maturidade e a única coisa que eu quero é estacionar no tempo, viver agora, aqui. Viver o tempo que nada me pegou por completo ainda, nenhuma repulsa e nenhuma reação, nenhum resultado da minha vida cheia de mentiras e fracassos. Nem aids, nem câncer, nem nada. Tenho medo de morrer, já disse? Tenho medo de morrer num dia azul, assim, quando tudo parecer lindo demais. Medo da morte me pegar quando a vida passar a ter mais sentido e me deixar desprotegida em um lugar que não acredito por conta desse ateísmo desregrado. Medo da solidão, também. Essa que tem tantas facetas e vai se distinguindo perante meus olhos... A solidão completa, amargurada, angustiada que vai pulsar nas minhas veias e procurar uma dose letal de qualquer coisa. Uma igreja, templo budista, qualquer lugar que me faça re-acreditar em tudo que agora perdeu a graça e a intensidade, o desejo de estar vivo.
Vou deitar aqui esse pensar indeterminado, pois de mim fogem as palavras quando tudo tenho a dizer. Só não me deixe só, meu bem. Não me deixe só.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Elas chegaram assim: seis folhas escritas em frente e verso molhadas pela chuva. Teu endereço na correspondência, luvas de pelica, medo de abrir e chorar. Medo de abrir e relembrar coisas que eu já havia esquecido e desistir de tudo o que eu tenho construído. Elas chegaram e eu fingi que não me importei, abri o pacote, sorri bem baixinho – e lembrei das vezes que maldisse nosso ninho – e li duas folhas e vim escrever isso aqui, menina. Um poema gigante que molhou meu coração igual teu pacote estava, uma carta escrita com a letra miúda e meio amarrotada que não tive coragem de ler ainda, sabe quando a gente tem medo do que pode sentir? Guardei de novo no pacote e fui dormir.
Virginia Woolf.
Tinha fracassado, como tantas vezes pensava, por que não conseguia se desligar totalmente da sociedade e da companhia das mulheres.
"We are the demons."
Sinto falta de você.
Essa foi à primeira frase que disse hoje acordar, sinto falta e isso é tudo. Falta do teu humor inteligente e falta de quando ele não é também, falta das suas paranoias, dores, poesia e fotografias intensas que explodiam amor por onde passavam. Sinto falta do teu rosto na tela do computador o dia inteiro e das vezes que me deixava falando sozinha para ir dormir. Sinto falta também das opiniões sinceras sobre meus textos e de quando tu dizia que eu cresci poeticamente falando [e esse tu todo gaúcho e outras expressões que acabei pegando de você]. Sinto falta de colocar dinheiro na caixinha que guardava e dizia para todo mundo que era para viajar para onde morava minha melhor amiga.
Sinto falta de cuidar de você à distância que gravar vídeos bobos que às vezes não diziam nada, só para tirar de você ou um sorriso ou uma lágrima. Sinto falta também de você dizendo que eu preciso cursar letras por que assim vou crescer mais e mais [ultimamente tem sido minha ideia principal de faculdade.]. Sinto falta de entrar no facebook e ter dez, vinte notificações só suas me marcando em fotos e publicações sobre o magnífico funk carioca [nhó.]. E ainda nem contei das vezes que ficávamos falando das pessoas toscas e de seus cabelos completamente idiotas, essa decadência mental que complemente a vida de nossos colegas.
Mas também agora, com essa distância toda, me faz pensar nas vezes que não te dei toda a atenção que precisava e que respondi sua dor com monossílabas por que não sabia o que dizer ou tinha medo de dizer alguma coisa errada [a dor alheia sempre me pareceu um universo impenetrável.]. As vezes que não te socorri ou que não acompanhei todas as notificações e coisinhas que tu me mandava. Ah... Me arrependo de não ter guardado teu endereço à sete chaves, pois se tivesse feito isso agora estaria mandando para ti uma daquelas cartas gigantes com flores, livros, poemas e fotografias que tu adorava.
Leão, e eu achando que sabia lidar. Sei que tu precisava desta pausa com o mundo e respeito cada instante de tua ausência e espero tua volta, de braços abertos, para mim. Só assim poderei te contar dos meus avanços, meus livros novos, meu coração que agora conheceu um âmago tão lindo que tem me feito ter vontade até de cuidar de mim. Os discos novos que tenho ouvido e todas as minhas patifarias essências. Mas, na tua volta o que mais quero é saber como foi esse seu tempo e prestar atenção em cada um dos detalhes mais sórdidos, deixando assim esse meu lado egoísta e chato por demais.
Com amor,
da sua pessoa-não-grata,
Carolina Moreira.
Será que sou mesmo obrigada?
A vestir as roupas que você veste só para não ficar nua, ser reprimida de um monte de coisa e perder minha vontade de ganhar a lua.
Será que preciso mesmo aceitar esse falsos preceitos de tudo e não revigorar meu coração?
Será o amor é desatento e o certo é fingir que não sinto, será que a solidão é tão triste que preciso mentir para fazer a social com tudo? Será que só vou ser feliz se tiver estudo?
Será?
Será?
Será?
Será?
SERÁ?
Respostas sem perguntas e perguntas que se esquecem por que foram feitas.
[confusãoadolescentequetormentameustextosdiarios]
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Muito prazer, Carolina Moreira.
Tenho 16 anos com cabelos esvoaçantes e muito rebeldes, me acho genial também, como diria a Ana C sobre todos os pontos de vista, inclusive de perfil. Faço teatro e me acho uma boa atriz, sou apaixonada por música e escrita. Mas gosto mesmo de amar e viver – viver é uma paixão como São Paulo, às vezes vira raiva e dá vontade de desistir, mas é impossível ficar sem esse desejo de gostar da vida. Escrever é uma necessidade paliativa com o momento que esteja vivendo na história citada ou na minha vida mesmo, essa que por vezes é sem graça e cheia de tédio – mas não me acostumo com isso, never. Paixões são meus temas preferidos, por juntarem tudo o que eu mais gosto de um modo às vezes simples e às vezes mais profundo do que qualquer outra coisa no mundo. Acho que o amor está em tudo, em todo canto, em cada hemisfério: só que de formas diferentes. Amor sexual, amor romântico, amor que pode virar ódio ou vice-versa. Não existe sentimento mais mutável que ele e nem mais moldável, mas, sem dúvida o amor é o mais puro e inocente da caixinha de sensações.
Gosto de olhos e mãos, intensidade, chá de erva-doce e camomila, erva-cidreira e incenso de alfazema. Biscoitinhos da sorte e cappuccino. Meu quarto tem um cheiro bizarro de mofo com cigarro e incenso, eu adoro, mas só eu. Tenho muitos livros perdidos e gosto de todos eles de uma forma única – até alguns que eu não li ainda – mas os meus preferidos são os de poesia. Poema-curto, daqueles que a gente se e fixa, Leminski principalmente, sempre na minha cabeceira. Poesia com muita frescura me cansa e eu paro na metade, sou cheia dessas ridicularias de parar quando deixa de me interessar, então se li ou fiz até o fim é por que algo me impulsionou a isso, talvez uma palavra, um gesto, uma frase. Tenho preguiça de intelectuais e detesto filmes iranianos, não fico bem de xadrez e óculos escuro deixa meu rosto mais redondo que uma bolacha maria, mas mesmo com essas individualidades eu adoro a cultura indie e seus defeitos – até alguns filmes surtados do Woody Allen. [mas não me venha com Goethe e Allan Poe.]
Sobre outras coisas que não gosto vem os gritos de exagero e pessoas querendo controlar meu desejo. Sobre as que eu gosto aparece astrologia e um certo misticismo que acabou destruindo o que eu havia construído em cima do ateísmo. Tenho mania de ao conhecer pessoas que aparentam ser especiais recolher logo os dados delas e fazer um rápido mapa astral que podem tornar-se folhas de interpretações dependendo da intimidade que possamos ter no decorrer do tempo e espaço. Tenho paixão especial por alguns signos específicos como escorpião – meu ascendente - por sua sensualidade e inteligência, excesso, peixes pela delicadeza e lirismo, leão pelo exagero de sentimentos, emoções e surtos que rondam essas emoções, e capricórnio – meu sol – pela força de vontade e por capricornianos sempre serem jovens anciões ou anciões jovens demais. Depois de tudo isso completo meu mapa com uma lua em aquário e algumas junções em libra e leão, assim fecho e acredito que isso explique algumas coisas que acontecem na minha cabeça vezenquando.
E para fechar ainda sonho em ser atriz cirquense ou entrar para Os Satyros. Ah, e essa é a primeira vez que escrevo alguma coisa sobre mim diretamente. Extremamente terapêutico.
Quiçá sentimento.
Meus abraços são uma descoberta, quando o ofereço é que sinto a vontade de entrar em contato com a alma lírica, a doce aventura intensa e real, a troca das energias e todas as sensações mais prazerosas que o âmago alheio pode proporcionar para esse meu coração que não bate nem apanha, mas sente. E desse sentir dos sentidos que lhe é cabível vê nitidamente uma ligação extrema para o teu: esse foi o jeito mais singelo que achei para explicar isso que acontece no exato momento que penso em algo e te imagino na proximidade do mesmo tamanho que essa distância que tenta sempre nos distanciar da vontade do coração.
Pequena, te cuido tanto aqui dentro de mim e tu não sabe por que não digo. Existem coisas que é melhor serem guardadas em silêncio por que palavra nenhuma conseguiria descrever o que pode existir na pureza de alguns dos meus pensamentos em relação ao fato. Te aperto forte e sinto que nessa proximidade pode haver votos futuros de algo que tenta dissimular essa razão tão desejada que fugisse da mentalidade de poetas como eu que busca a todo o momento uma dose a mais de qualquer coisa que possa aliviá-lo dessa dor de viver.
“vou te envolver nos cabelos/ vem perder-te em meus braços/ vem que eu te quero fraco/ vem que eu te quero tolo/ vem que eu te quero todo/ todo meu...”
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Chá Russo - Uma resposta para um teatro sem nenhuma encenação.
Penso todos os dias comigo mesma em como é que você foi parar tão longe. Como se o pensar em você me deixasse mais próxima do final desse labirinto bizarramente lamacento que é tua mente. Não disse em nenhum momento que sou sã, meu bem, não pense isso, pois por mesmo que eu mentisse dessa forma sei que você riria quando olhasse a podridão que anda a minha receita médica, cada consulta um novo comprimido ou uma nova miligrama de felicidade ou sanidade. Agora mesmo que eu havia escrito na parede branca do meu quarto que sou normal de novo. Tanta falsidade moral junta. Eu já fui normal um dia? O que torna a gente normal? Adoro esse tipo de melodrama existencial-poético-fútil-amargo como nossos corações que foram jogados num pote sujo de formol.
Mas você não poderia ter escolhido lugar melhor para se livrar de si mesma – E de um pedaço de mim também. Moscou é lindo, tão lindo quanto esse sentimento louco e obsessivo que continuamos cultivando uma pela outra, quer dizer, que ao menos eu ainda cultivo por tua pessoa e pelo o que restou do teu corpo depois de tantas garrafas de vinho barato uncool acompanhadas de cigarros que eram fumados daquela forma desesperada, esse teu corpo que por sinal agora está neste aeroporto solitário vendo essas vidas apáticas e monótonas passando pelos corredores do saguão, sei que permanece sentada numa cadeira afastada de tudo e com medo de que alguém chegue e venha dizer alguma coisa como eu disse. Para onde você está indo? Ah, sim, Moscou é lindo, frio, literatura e chá russo.
Eu iria para Moscou com você se me sentisse somente um pouco segura ao teu lado: Refaço. Segura comigo mesma a ponto de me deixar partir contigo para um lugar que fizesse serem realizados todos aqueles desejos que são tão mais bonitos quando são somente desejos, afinal, sonhos e desejos não foram feitos para serem realizados, somente para nós ficarmos degustando o gosto docinho deles no meio da amargura podre que é o resto da nossa vida. Não vamos tomar chá russo juntas, meu amor, não vamos, mas você pode ir sozinha, te deixo aqui, bem aqui, no mesmo lugar onde há anos atrás eu te vi pela primeira vez e te fiz aquela pergunta, mal sabíamos que nossos destinos iriam se juntas dessa maneira, não é? Eu nunca acreditei em acaso ou destino, nunca acredito nessas merdas que me fazem pensar e discordar dos meus próprios princípios, anti-princípios. Mas não se zangue comigo, por favor, prefiro ver do teu rosto escorrer uma daquelas lágrimas que estão expostas com: “Poderia ter sido tão diferente...” do que um sorriso malicioso de raiva ou descaso. Sou a prova viva de que altruísmo é a maior mentira inventada pelo ser humano depois de Deus.
Sinto que no meio dessa tua viagem de liberdade espiritual conhecerá um rapaz bom, daqueles ruivos todos cobertos - Por causa do frio macabro que invade Moscou nessa época do ano - de barba mal-feita que te olhe bem nos olhos e diga: Leonina com ascendente em Touro e Lua em Sagitário ou é só impressão? Desses também que você nem vai se apaixonar de verdade, mas vai gostar de brincar de jogo de poder com ele, manipulação sempre foi nosso forte. Ah, sim, mas voltando, não posso ir contigo por diversos motivos, um dos mais claros é que não tenho roupa suficiente para suportar tanto frio. Não estou inventando desculpas esfarrapadas nem nada, mas agora? Está muito cedo. Não dei comida para meu rato branco roubado de uma caixa de Skinner e nem fumei o meu charuto que disseram ser Cubano com aquela pose Freudiana de sentar na porra da poltrona de couro sintético e citar bostas existencialistas que nem eu mesma consigo entender.
Devoramos o que sobrou dos nossos corações cobertos de formol quando você decidiu ir para Moscou. Por que tão longe? Não sei o restou de mim aqui. Só sei que não consigo mais escrever coisas bonitas depois que paramos de trepar. Sei que teu plano inicial era Sri Lanka como naquele texto grotescamente bonito do Caio. Mas sei que você não é louca, digo, não é louca diferente de mim, nossa loucura é o que nos move, sem ela só sobra essa porra de vazio que só é preenchido com a dor, precisamos de dor, ela é necessária, precisamos da insanidade por que é ela que nos torna um pouco mais sãos de todas as bostas que fazemos. Lembre-me, numa carta, de nunca dizer isso para meu analista, pode ser fatal. Se o problema é o medo da solidão, não se preocupe, ficará bem com teu novo amor que acabará de pular d’um livro do Dostoiévski e teus novos amigos com nomes escrotos cuja pronúncia é quase impossível. Enquanto tu vai se divertir com teu copo de Chá Russo eu ficarei aqui cuidando do teu apartamento simples e charmoso como se você fosse voltar no dia seguinte. Ando tão exausta e cansada disso tudo, dessa história falsa e suja de amor. Sinto falta do tempo que em que meu sorriso era bonito e minha voz era suave de verdade, não monga pelo resultado de anos tomando Clonazepan, se é que você me entende, acabamos ficando com cara de pão amanhecido os outros acham até que somos pacíficos, mas somente estamos dopados de novo.
Meu chá está esfriando e se deixar esfriar de verdade não conseguirei mais beber. Isso também acontece com meus sentidos, estão esfriando e logo não poderei mais usá-los. Para finalizar, direi: Me espere num café perto da tua nova casa quando a chuva estiver para nascer e a única coisa que o céu tenha o poder e a pureza de expressar sejam aquelas pequenas gotículas d’água que caíram sobre teu rosto. Fará mais frio de costume e eu sentirei que você estará pensando em mim, então pegarei o primeiro avião para Moscou, apreciarei a paisagem solitária e mórbida do aeroporto só de pensar que em tão poucas horas estarei ao teu lado, pronta para te cobrir e te tirar das garras ruivas do novo amor. Sentarei numa cadeira de pernas cruzadas para poder dividir contigo a sutileza de tomar uma xícara de Chá Russo de verdade.
Logo que minha sanidade permitir.
desejei amar-te: nem muito nem pouco, só o essencial. desejei tanto que desse amor cairam pétalas brancas no chão para simbolizar a paz de teu sorriso. amar-te seria levitar no aconchego que hesito em sentir longe de ti. talvez fosse leviano, proibido ou fora da lei, mas do que me basta toda a servidão do mundo se estou aqui, longe de meu bem?
o que carreta nesse martírio de emoções desfiguradas seria a saudade que amansa meu peito pela madrugada. escrevo-te tanto que em mim resta só o abandono que senti ao ver a diferença do teu âmago para o meu, diferença essa que se acoberta à todas as qualidades que não sinto que tu vê. se ele, ovelha negra, te oferta a tristeza de uma vida vazia; me diga: por que eu, com todo o romantismo do mundo, não posso preenchê-la? me entristeço ao retocar esse assunto como navalha em minha pele, será todo esse sentimento despudorado que lhe apresento? isso assusta-te? ah... me pego pensando aqui em meio de tuas palavras confusas, não vejo sentido nesse teu falso pudor.
a brasa que cai de meus cigarros e o vinho que desse áspero na minha garganta dormente são mais verdadeiros e sensatos que qualquer um dos teus beijos - cartas ou rascunhos.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Couro, imaginação e rebites.
Eu tinha uma dor. Ela, sua cura. Talvez não soubesse, mas a cada passo dela podia ver a cura da minha dor se mexendo de um lado para o outro, vivendo, amando, caindo e reconstruindo o que perdeu no meio termo, sem mim. Eu tinha uma dor, filmes antigos, chás importados e lps caros, além da insanidade oposta à desventura de viver. Eu tinha barba malfeita, uma pilha de livros escritos e nunca vendidos, orgasmos secos e frios como os cafés pela manhã e os almoços antes do cair da tarde em que esperava ela passar, todos os dias no mesmo bar. Ela tinha uma jaqueta de couro cheira de rebites, era a adolescência, eu pensava. Tinha também um semblante árduo e meio impuro, impossível era saber o que ela estava pensando ou querendo demonstrar enquanto passava na frente do bar. Aquele era o limite, a porta de entrada era meu mundo e a rua era o mundo dela, no instante em que ela transpassava o meu lado era como se estivesse invadindo minha vida, entrando no campo do meu olhar e querendo me provocar mexendo os cabelos levemente, tragando aquela fumaça de seu cigarro devagar, me fitando nos olhos.
Eu tinha tesão e ela um desvario. Nesse tempo já havia escrito cartas, sonetos, poesias, tudo para ela, hipócrita, que nunca havia visto. Que nunca havia nem perguntado meu nome, nem minha idade, nem onde eu morava ou por que passava tanto tempo só a observando passar. Por que seria de seu interesse, além? Observei tantos dias ela passar que o seu caminhar foi ficando tão monótono como o resto da vida, por tempos, o olhar era vazio e reparei que tinha emagrecido demais, a jaqueta havia desbotado e os rebites estavam enferrujando. Suas botas de soldado pareciam compradas em algum camelô ou importadas do Paraguai. Eu, homem renovado achei que havia esquecido o por que de passar tanto tempo olhando-a sem receber nenhuma resposta.
Ela tinha dezesseis anos e um intenso desejo de se mostrar para o mundo, escorpião abundante e alguma junção em libra. Uma mancha na perna esquerda e paixão por literatura francesa, algumas recuperações escolares por falta de presença e uma relação horrível com os pais – aquele maldito que a olhava com a língua e queria ensiná-la sobre educação sexual, diria. Só para não soar tamanha a falta de pudor -. Ela tinha nojo de muitas coisas, só não nojo de perigo: álcool, drogas, nicotina e sexo. Nunca mediu esforços para saciar seu desejo pelo imoral e fora da lei.
Ela passava todos os dias na frente de um bar, dentro havia um homem mais velho, parecia maduro, até. Barba malfeita, um charme indecifrável e um olhar fulminante, a olhava nos olhos e nos seios, mas parecia até sentir seus anseios. Ela tinha uma dor.
Ele, sua cura.
Mas ela nunca soube.
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