sexta-feira, 27 de maio de 2011

Passado.


O caminho eu já sabia, as pessoas na rua, sujas, imóveis e tristes. Elas eram os mesmos de oito meses atrás, os números estão ficando cada vez maiores e nessa época eu ainda não pensava que um dia deixaria minha esperança. Talvez soubessem coisas sobre elas mesmas que não queriam demonstrar, mas havia uma grande probabilidade de ignorarem a própria ignorância. Estava chegando e minha tensão foi aumentando, ela não estaria lá, mas eu não sabia como que reagiria ao choque. Mal, foi mal. Minutos esperando que pareciam ser séculos, minhas mãos suavam, meu cérebro demorava para digerir tudo o que eu precisava dizer para causar boa impressão, aquela que: “Ela parece tão bem agora, ganhou aquele charme de pessoa-madura-que-teve-um-grande-amor-perdido.”
Não sei se consegui, não disse nada, cabeça baixa, disse a que vim. Tudo se resolveu em menos de dez minutos. Saí de lá querendo chorar, lembranças demais tateavam minha mente, o primeiro beijo, a primeira transa. Toalha dela do varal. Realmente quis chorar, mas não consegui. Seria sincero demais. E ultimamente sinceridade era algo fora do meu vocabulário.
Por dentro queria um bilhete, dizendo qualquer coisa. Esperava, ainda, realmente esperava. As esperas doíam tanto, a ausência que tinha um gosto azedo e ruim. Saudade não existia. Mas doía. Corpo dolorido, coração despedaçado.

Contei no caminho: “Um dia você vai encontrar um grande amor. E, deixá-la, por mais que hoje não pareça foi à maior dor que eu já senti na vida.”

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Virginia Woolf.


Alecrim.

Esperei você ligar, você não ligou. Deprimida e meio cansada de tudo, light, acendi um incenso não me lembro do quê. Sozinha no meu quarto, com os meus pés tocando aquela manta que continua sendo minha preferida. Estava um cheiro bom, daí acendi um cigarro, ficou aquela mistura, Alecrim, lembrei. O incenso era de Alecrim. Misturou cigarro com Alecrim, por falar nisso, estão acabando, só faltam cinco, duas vezes com o mesmo desenho atrás, será um indício? Morte. Os números vão crescendo ou diminuindo, minha idade, meu medo, minha loucura, minhas miligramas.  
Pensei em te ligar, mas não tinha como. Preferi pensar que você queria, queria tanto ouvir minha voz, mas não tinha como também, eufemismo me domina. Segundo dia, onde vamos parar? Queria rir ou chorar, mas não conseguia. Chamar-te para vir me ver, vai ser bonito. Lá tem flores, folhas, você sabe que eu gosto. Principalmente agora nessa minha fase mais psíquico-espiritual. Comprei umas pedras novas ontem, são bonitas, brilham e trazem uma energia boa.
Amanhã é um dia bom, alegre, sexta-feira tem clown, me inspira tanto. Teatro, gente intelectualizada fazendo o ridículo para fugir do marasmo e da nostalgia dos seus cotidianos. Perdi alguma coisa dentro de mim, faz tanto tempo que não lembro se um dia realmente tive essa coisa. Talvez coragem, revolta eu tenho de sobra, poesia só de vezenquando.
Não sei mais o que dizer.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre Ela.

- Ela me ama, eu sei.
- Sabe? Voltou a sentir?
- Voltei.
- Quando?
- No instante que ela disse adeus.
- Como?
- Depois de todo o drama ela parou, respirou, senti que ela quis chorar, mas segurou. Talvez para que eu não pensasse que ela é fraca. Disse que tinha medo, num tom baixo e eu disse que também tinha, senti um suspiro, um silêncio. Um "Eu te amo" tão sincero, puro e bonito que do outro lado da linha me veio o cheiro de Alfazema. Nesse instante tudo voltou, tudo o que eu achei que tivesse sido perdido, mas só havia ficado numa parte de nós que ficara intocável. Então voltei a sentir, nesse segundo, que é verdadeiro de novo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

06.05.11 - Ou não.


Ele sabia que um dia esse dia ia chegar, todo mundo dizia: Ela não é mulher para você, ela é livre, leve e solta. E você, o que é? Um poeta tristonho. Mas quando chegou o dia, ele não sabia o que fazer. Ela chegou no horário de sempre, na madrugada, enquanto ele só estava tateando as teclas surdas da máquina de escrever suas palavras de sempre. Ela entrou e não disse nada, abriu o guarda-roupa, pegou umas coisas e colocou numa mochila velha, a maquiagem borrada, o batom quase seco, ela disse: Eu não agüento mais.
Ele não teve tempo de perguntar o que era que ela não agüentava mais, por que logo ela foi dizendo o que parecia estar engasgado nela fazia muito tempo. Disse que não conseguia mais encarar o olhar árduo e seco dele, a falta de carinho, o silêncio, começou a gritar palavras desesperadas, ele continuava sem saber o que fazer, então continuou só a escrever enquanto todo aquele escarcéu romântico-podre-poético estava acontecendo. Uísque no chão, bituca de cigarro tirada da boca e jogada no chão. ESTÁ PRESTANDO ATENÇÃO NO QUE EU ESTOU DIZENDO? Ela começou a jogar na cara dele coisas antigas, como o esquecimento do aniversário de quantos anos mesmo de casamento? Disse também das trepadas desenfreadas com os caras do movimento, Marcos, aquele do moicano, Renato, o da cocaína, tinha também outros, que por sinal, meu deus, trepavam muito melhor do que ele. E nesse tempo todo, o que você fazia, seu filho da puta? Comia as palavras.

Sabe, a vida é sexo em brasa, e, ultimamente só tem uma criatura que anda me comendo: O tempo. 

09.05.11 - Ainda me restava a esperança.


A gente nunca sabe o que o outro está sentindo, o quão grande é a dor dele. Tem gente boa mandando vibrações para você, meu anjo. Gente boa de verdade. Queria acreditar um pouco em Deus – Vou escrever com medida de respeito dessa vez. – só para poder rezar para você. Ontem o surto foi terrível, cheio de borboletas negras, elas queriam que eu morresse, eu queria morrer, pareceu à alternativa mais viável, não mais fácil, e sim mais racional, eu estou exausta da podridão universal, de gente traumatizando sexo, traumatizando a mente e a si mesmo. Ontem não consegui dormir, eu tenho medo de dormir quando as borboletas negras aparecem, sempre tenho sonhos ruins. E tive, como clichê. Estava matando pessoas no ônibus, ninguém descobriu. Eu achava que quando sonhamos que matamos pessoas é um suicídio imaculado, não sei se eu tenho razão. Eu pensei que a vida é um punhado de coisas ruins, não de lantejoulas. Minha mãe está mal, eu sei que está, queria rezar para ela também, mas não consigo falar com esse Deus, tenho traumas demais dele, meu senhor. O que você fez por mim? O que eu fiz por você? Religião é o maior problema do universo. Eu estou fraca, apelativa, queria chorar mas não consigo. Sexta feira ainda está longe, queria te abraçar, você tem gosto de amor, eu adoro gosto de coisa bonita. 
Queria você, queria ser segura, queria ser feliz.

Por favor: Don’t  let me down.

"Angústia é fala entupida."

- Ana C.

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

Tensão, gripe e febre. Cigarros acabando, gosto ruim na boca, azedo de desgosto, medo e ansiedade. Hoje é um dia decisivo e eu não me preparei psicológicamente para isso. Sei que vou chorar, sei que vai ser como um oceano, mas não consigo evitar, não posso mudar. Dói como sempre, o início do filme é sempre bonito, diferente, mas depois tudo fica sempre igual. O mocinho - No caso o Amor - acaba morrendo no final. Telefone poderia tocar logo, diminuiria a tensão misturada com a angústia.
Queria amar menos, me preocupar menos. Por que tinha que ser de Capricórnio, meu deus? Se fosse de Aquário as coisas seriam mais fáceis. Cansei de dizer a mesma lenga-lenga de sempre sobre minha exaustão vivencial, não quero mais morrer nem nada.

Tenho que pegar o pote de ouro no final do arco-íris que mais parece uma guerra.

Se vou conseguir chegar até lá, não sei. Mas, pelo menos tentei... 

domingo, 22 de maio de 2011

Ando apaixonada.

Por você, Ana. E agora, o que eu faço?

Tio Henry.

"Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça dos artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e o pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça para baixo, os pés sempre se movendo em sangue e lágrimas, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance que lhe rói as entranhas (...) Um homem que pertence a essa raça precisa ficar em pé no lugar alto, com palavras desconexas na boca, e arrancar as próprias entranhas. É certo e justo, porque ele precisa! E tudo quanto fique aquém dessa aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos tetrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. O resto é falsificação. O resto é humano. O resto pertence à vida e à ausencia de vida."

Devaneio para minha tristeza.


Vai embora
Saí daqui
Não te quero mais
Dentro de mim
Sou fugaz
Agora triste
A pureza me insiste
Em lembrar-me de um beijo teu
Que ficou na memória do meu adeus.

Tua ausência me trouxe a dor
A felicidade que teu corpo me causou
Foi embora com minhas esperanças
De querer-me bem
Dentro de ti.

Só sei que agora de criança
Passei a ser eu
Teu amor é um desejo vago
Inexistente na realidade
Que predomina o gosto árduo
Da solidão.

Carolina Moreira.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cosmos.



Anos se passaram e ela continuava a lembrar daquela garota que um dia bebeu conhaque com ela e disse coisas sobre solidão, medo, poesia e morte. Enquanto ela só ouvia calada e encantada os dizeres com um semblante encantado e assustado. Seu rosto exalava confusão e sincronia. Disse coisas que aprendeu nos livros, na rua, na arte. Falou dos astros, cosmos, urano e Vênus. Da volta que saturno dá no zodíaco vezenquando. Não parava nunca: “Era de peixes está acabando, logo vem aquário, 600 anos, mais revolucionário, pensando sempre nos outros.” E daí, o que restou? A saudade de alguém que sabia das coisas, que chorava, e se destruia. Mas, no fundo, era alguém muito frágil que só queria amor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Caio Fernando Abreu.

"Sacudir você e dizer que você é um otário porque está me perdendo dessa maneira... A minha ganância por te ter. Sim, eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos."

Morte Vivencial.

- Estou fazendo igual ela, quando disse que me amava.
- Talvez naquela época ela realmente te amasse, as pessoas mudam.
- Talvez, talvez, talvez, você é cheia de talvezes.
- Talvez você tenha razão.
- Se ela me amava, por que mentiu?
- Por que ela é ser humano e seres humanos são imperfeitos.
- Isso foi clichê demais. Acho que agora vou embora mesmo.
- Eu já fui faz tempo, embora disso tudo.
- Já abri o gás. Vou me retalhar até ficar desfigurado, sorte que tem álcool.
- Meus cigarros estão acabando, estou sem dinheiro para comprar mais.
- Cigarro mata.
- Viver também.

"Só sei viver se for por você (...)"

Sabe aquelas coisas que ficaram guardadas? As fotos, textos e nossas cartas. Hoje toquei nelas e mudei de lugar, guardei no meu coração. Por um tempo ficaram espalhadas pela minha cama, como se fossem rosas bem vermelhas e como se eu pudesse ter o controle sobre o que sentiria quando as tocasse, passei um tempo olhando e sentindo as boas vibrações que haviam em tudo. Em mim, em ti, no que nos ligava e agora não faz mais sentido. Pensei em você como um pássaro livre, deixei tão livre que foi embora. Mas é de ti, meu bem, do teu aquário que não posso deter.
Ando por aí pensando em tudo, em nós, nela, nos fatos, nas intrigas, nos meus livros que não estão mais organizados alfabeticamente. Meus filmes, o que é meu e o que eu não posso ter controle. Como no caso, a vida.

Como se fosse de Gêmeos.

Dentro de mim moram um anjo e um demônio. Como no poema da Bruna, são amigos e bebem dizendo besteira.
O anjo quer ler, dormir, ficar na nostalgia cinza-fria das manhãs solitárias. Odeia barulho alto e agitação exagerada, escreve cartas, cria coisas bonitas e sente saudade de pequenos atos nas pessoas, quer carinho e atenção, faz mapas-astrais e sorri vezenquando. O anjo é Caetano, Renato, Prince Billy. O anjo é escola cedinho, sono de tarde, controle necessário, medo do escuro, cabelo arrumado.
O demônio é tenso, artimanho, veste jaqueta de couro e cospe conhaque. Fede a cigarro
 e a confusão. O demônio é a revolta, a volta pra casa, os amores perdidos por conta de preocupações desnecessárias, a falta de fome causada por certas coisas. O demônio é rocker e o anjo é poeta. Poeta Maldito, mas é poeta. O demônio é a chama, escorpião no meu ascendente, Cazuza, Ginsberg, Caio não sei onde se enquadra, Leminski e Pistols.

O grito é minha poesia, o anjo pode ser poeta, mas a chama maldita é o demônio.

Ana Cristina César.

Aventura na Casa Atarracada

Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.


Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.