O caminho eu já sabia, as pessoas na rua, sujas, imóveis e tristes. Elas eram os mesmos de oito meses atrás, os números estão ficando cada vez maiores e nessa época eu ainda não pensava que um dia deixaria minha esperança. Talvez soubessem coisas sobre elas mesmas que não queriam demonstrar, mas havia uma grande probabilidade de ignorarem a própria ignorância. Estava chegando e minha tensão foi aumentando, ela não estaria lá, mas eu não sabia como que reagiria ao choque. Mal, foi mal. Minutos esperando que pareciam ser séculos, minhas mãos suavam, meu cérebro demorava para digerir tudo o que eu precisava dizer para causar boa impressão, aquela que: “Ela parece tão bem agora, ganhou aquele charme de pessoa-madura-que-teve-um-grande-amor-perdido.”
Não sei se consegui, não disse nada, cabeça baixa, disse a que vim. Tudo se resolveu em menos de dez minutos. Saí de lá querendo chorar, lembranças demais tateavam minha mente, o primeiro beijo, a primeira transa. Toalha dela do varal. Realmente quis chorar, mas não consegui. Seria sincero demais. E ultimamente sinceridade era algo fora do meu vocabulário.
Por dentro queria um bilhete, dizendo qualquer coisa. Esperava, ainda, realmente esperava. As esperas doíam tanto, a ausência que tinha um gosto azedo e ruim. Saudade não existia. Mas doía. Corpo dolorido, coração despedaçado.
Contei no caminho: “Um dia você vai encontrar um grande amor. E, deixá-la, por mais que hoje não pareça foi à maior dor que eu já senti na vida.”
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